Robert Anton Wilson (1932-2007) em 1991. Via Wikipedia. |
A maioria das características necessárias para fazer sucesso na escrita são exatamente aquelas que nos ensinam a reprimir. Tais características são denunciadas por lideres religiosos em todos os lugares, pela maioria dos filósofos e por muitos psicólogos famosos.
Eu me refiro a qualidades tais como vaidade, orgulho e mesmo presunção; como egotismo e senso de grandiosidade; à firme crença de que você é uma pessoa importante, mais esperta que a maioria das pessoas, e que suas ideias são tão fodas que todos deveriam te ouvir.
Em sentido contrário, as pessoas que conheci no colégio e na faculdade que "queriam ser escritores" mas que nunca publicaram nada, tinham as qualidades opostas. Elas eram tímidas, dóceis e inseguras. Elas possuíam a humildade que todas as religiões ensinam; elas tinham um senso realista de que provavelmente não eram mais brilhantes nem mais importantes do que ninguém.
Essas pessoas possuíam ironia, equilíbrio, pragmatismo e não eram fanáticas. É justamente por isso que não escrevem mais.
Os escritores de sucesso que conheço não são guiados apenas pela vaidade mas também são personalidades fanáticas.
Isso vale não apenas para escritores, mas também para todas as grandes pessoas criativas de todas as áreas. Michelangelo foi um egomaníaco que atacou fisicamente o Papa por ter tentado lhe dizer como pintar o teto da Capela Sistina.
Beethoven era rude, autoritário, teimoso como uma mula e em nenhum momento duvidou de ser o maior músico de toda a história — e ele arremessava a mobília nas pessoas que lhe aborreciam.
Frank Lloyd Wright, quando testemunhou no tribunal, se descreveu como o maior arquiteto do mundo, e quando seus amigos lhe disseram que ele soou grandiloquente ele respondeu que precisava ter dito a verdade porque estava sob juramento.
Se você acredita que o ego é uma "ilusão", que orgulho é um dos sete pecados capitais, que a humanidade deve ser reduzida a um rebanho de gado feliz, então você poderia muito bem desistir de escrever e de todas as outras artes.
Você não pode ter uma alta opinião de si mesmo porque o mundo sempre tentará corrigi-lo.
A única coisa que a maioria das pessoas odeia mais do que o sucesso é a autoconfiança — um aviso de que você pode estar prestes a ter sucesso. Não te ensinam isso na escola dominical, mas é a mais pura verdade: a qualquer evidência de que você pode ter sucesso, os invejosos farão de tudo ao seu alcance para te destruir.
Portanto, não é possível que toda essa autoestima passe sem ser desafiada; ela será desafiada diariamente por todos os lados. Em contrapartida, se você tiver uma baixa opinião de si mesmo, ninguém vai corrigi-lo. Você levará isso para a vida a menos que você próprio se corrija.
A segunda qualidade que os escritores precisam para o sucesso, além da vaidade, é do amor pela escrita em si. Não pode ser divertida de ler uma coisa que não é divertida de escrever (o que é corolário da lei psicológica segundo a qual ninguém gosta de estar com você se você próprio não gosta de estar consigo mesmo. Ler você é uma forma simbólica de estar com você).
Poucos escritores têm sucesso da noite para o dia, porque poucas pessoas, em qualquer área, conseguem sucesso imediato. Isso não significa que você deva suportar anos de pobreza antes do sucesso.
Pobreza é um estado mental baseado em uma autoestima inadequada.
Se você acredita em si mesmo, você nunca é pobre; você está apenas temporariamente com poucos fundos. Eu estive no seguro-desemprego [original: Unemployment] durante seis meses em 1964, e na assistência social [original: Welfare] por dois anos (1972-1973) e nunca fui pobre. Eu estava aguardando o mundo perceber o quão importante eu sou.
Ao lado do egotismo e do amor ao trabalho, a única coisa a mais que uma pessoa criativa precisa é de algo que aparentemente, e só aparentemente, contradiz a autoestima. Trata-se da crença em algo maior do que si próprio.
Michelangelo pintava para a glória de Deus e para a glória de Michelangelo, em igual proporção. A música de Beethoven é um grito de compromisso apaixonado com Deus, Vida, Humanidade e Ludwig van Beethoven, em igual proporção.
James Joyce, que talvez seja o maior escritor de todos os tempos, disse nunca ter encontrado um ser humano que fosse entediante; isso é porque sua fé em James Joyce era igualada apenas por sua absorção no que outras pessoas poderiam ensinar a James Joyce sobre psicologia humana.
Outras grandes mentes criativas têm estado igualmente absorvidas em tirar a humanidade deste planeta, na Revolução Socialista ou no Feminismo, ou em qualquer outra coisa que capture suas imaginações.
Robert Heinlein passou as únicas regras pragmáticas para escritores que fazem sentido para mim. A primeira é terminar o que você começou. A segunda é continuar enviando cada trabalho até que você o venda. Se você foi rejeitado em 100 lugares, faça uma lista de outros 100 e continue enviando até que o venda.
Se você gostou de escrever, alguém em algum lugar gostará de ler, e gostar tanto a ponto de publicar. Desde que aprendi essa regra tenho vendido tudo que tenho escrito, inclusive minha tese de doutorado [original: Ph.D. dissertation], coisa que é dificílima de vender para um editor comercial.
Mas mesmo essas duas regras heinleinianas de marketing não darão certo a menos que você já possua as três características psicológicas mencionadas anteriormente — acreditar em si mesmo, acreditar em algo maior do que você e sentir prazer no que está fazendo.
O rabino Hilel resumiu tudo isso há 2000 anos: "Se eu não for por mim mesmo, quem será por mim? Se eu for somente por mim mesmo, o que sou eu? E se não for agora, quando?"
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