quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Mike Shaughnessy - De vermelhos e verdes

"Air Pollution" por Annemeet Hasidi.

Mike Shaughnessy

28 de agosto de 2020
(original aqui)

Os ecossocialistas enxergam os problemas da justiça ecológica e da justiça social como sendo profundamente relacionados ao nosso sistema econômico, o capitalismo, e nenhuma melhoria no capitalismo resolverá os problemas ecológicos e sociais causados por esse sistema destrutivo e injusto.

Os socialistas e os "verdes" mais tradicionais não costumam enxergar relação entre esses problemas, com os "verdes" acreditando que o capitalismo de alguma forma pode ser reformado e transformado em eco-amigável. Já os socialistas frequentemente enxergam a questão ecológica, no máximo, como apenas mais um problema que será solucionado quando avançarmos para um sistema socialista.

Ambas as formas de pensar estão erradas. Governos socialistas que vimos pelo mundo muitas vezes tiveram um histórico ambiental mais sombrio do que países capitalistas. É verdade que esses países, como a União Soviética, a China e seus satélites, não foram realmente socialistas mas é assim que são percebido pelo grande público. Mudar essa percepção não é fácil, mas não vejo os socialistas tradicionais sequer tentarem isso.

Um meio ambiente saudável é essencial para o bem-estar da humanidade, e os efeitos da mudança climática, por exemplo, têm impacto principalmente sobre os mais pobres. Os países ricos podem erguer defesas contra os piores efeitos climáticos, ao menos por enquanto, mas os países pobres não. Tanto nos países ricos como nos pobres coisas como incineradores e despejos tóxicos estão localizados nas vizinhanças mais pobres.

O Labour Party [Partido Trabalhista] britânico sob a liderança de Jeremy Corbyn deu um passo "verde" com seu plano por uma "Revolução Industrial Verde", que é a base para o início de uma transição na economia. Ainda não está claro se esse programa sobreviverá sob o novo líder trabalhista, Keir Starmer, mas aposto que caso sobreviva, será diluído para que não assuste o capital britânico.

Quando as regras do lock-down da pandemia relaxaram um pouco no verão tive a oportunidade de encontrar alguns velhos amigos. Um deles é um socialista tradicional, antigo membro do Socialist Workers Party [Partido Socialista dos Trabalhadores], que agora concorda que deva haver um incentivo por energia renovável (e poder nuclear). Quando eu comentei que metais preciosos finitos são necessários para a geração de energia eólica e solar, ele sugeriu que poderíamos "minerar a lua".

Não fiquei inteiramente surpreso com essa sugestão, pois meu amigo é seguidor de Leon Trotsky, que como se sabe queria que seu "super-homem socialista" pudesse "mover montanhas e desviar rios". Esse tipo de pensamento é largamente dominante nos círculos socialistas — mas a ideia de que o homem possa subjugar a natureza está sem dúvida desacreditada pela atual crise climática. Socialismo como a última panaceia tecnológica. O crescimento econômico é um vício tanto para a esquerda quanto para a direita.

Para os "verdes", em especial mais recententemente, as questões de justiça social são parte da nova sociedade que eles querem ver, contudo tentam corrigir os sintomas causados pelo sistema econômico ao invés de corrigir a própria raiz do problema. Como é possível erguer um sistema ecologicamente racional, se tal sistema é baseado em um crescimento exponencial em uma planeta finito?

Alguns "verdes", por exemplo, ainda acham que os problemas populacionais são o principal fator de destruição ambiental, sem que consigam perceber que a pobreza inerente ao capitalismo leva os pobres a terem famílias numerosas para que possam obter alguma renda, principalmente quando os pais se tornam muito idosos para trabalhar. Além de tudo, o impacto ecológico das pessoas em países em desenvolvimento é pequeno se comparado ao consumo médio nas nações mais ricas.

Sendo membro do Green Party of England and Wales [Partido Verde da Inglaterra e Gales] há quase 15 anos, eu posso afirmar que os "verdes" frequentemente focam no "estilo de vida" individual, como ser vegano ou usar energias renováveis, enquanto acreditam que nosso sistema econômico capitalista pode se tornar ecologicamente racional. Alguns desses "verdes" utilizam o vazio e deprimente mantra do "nem direita, nem esquerda, e sim pra frente". Não conseguem enxergar um palmo na frente do nariz, digamos assim.

Um dos candidatos à liderança do Green Party na disputa de agosto afirma que defende uma política pragmática, e aparentemente considera a energia nuclear como alternativa no combate à crise climática. Há muitos problemas com a energia nuclear, em termos de perigo, custos e seu uso armamentista, mas apesar disso esse candidato utiliza o tema como catalisador de votos. A energia nuclear pode ser um discurso fácil, mas como "verdes" poderiam apoiar isso?

Agarrar-se às mesmas soluções "ecológicas" tocadas pelas força do capital é um beco sem saída e uma franca perda de tempo. Por que tentar salvar o sistema econômico que nos levou a esta situação?

Para o ecossocialismo não se trata de tentar fazer o sistema capitalista funcionar melhor, e sim de esmagar todo o sistema e dar início a um novo. De fato, a ecologia é o "calcanhar de Aquiles" do sistema, na medida em que o crescimento econômico infinito é irracional, e portanto uma ameaça à lógica do capitalismo. Uma vez que se compreenda isso, a conclusão inevitável é a de que o capitalismo é insustentável. E precisa ser substituído pelo ecossocialismo.

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